Operador poético
Pensar a literatura, é antes de tudo pensar o homem e o que o constitui, se como dizia Ezra Pound a literatura é linguagem carregada de significado , a literatura é também o significado carregado da inteiração humana .
Penso em água. Como palavra eu poderia dizer que ela é um substantivo apenas, livre de demais comprometimentos com sua significação,mas um significado imediato e asséptico poderia dizer que ela é fruto da composição química entre uma molécula de hidrogênio e duas moléculas de oxigênio ,além disto uma suposição elementar poderia também dizer que ela é o composto básico que origina a vida , uma vez que os seres humanos são majoritariamente formados pelos elemento água.Concepções abissais, apesar de possíveis, mas não restritas, mas não unilaterais pois o homem é capaz de ir muito além disto , o cristianismo dirá que a água é a palavra de Deus ,assim Jesus transforma a água em vinho , Moisés abre o mar vermelho mas o conceito é muito mais profundo do que o milagre em si; a literatura dirá por sua vez que a água é direção , que os rios são caminhos e que o mar é o infinito, imagens que direcionam um personagem e compõem o enredo mas que também discutem a própria vida.
Água pode além disso ser purificação, sutileza, calmaria ou profundidade; a água pode ser a alegria do semeador e a tristeza da colheita, pode estar ligada a alegria do nascimento e ao desespero da morte, ao bem , ao mal e a quantos dualismos o homem for capaz de pensar.
Da sucessão de significados destacamos a essência da linguagem, o homem assim que vê algo a nomeia, já dizia o grande Martin Heidegger,a condução deste significado do texto ao leitor e a sua inteiração com a infinidade de demais significados possíveis é o que torna a literatura uma tarefa complexa e desafiadora.
O operador poético, ou seja aquilo que deflagra o processo de inteiração entre o a palavra e o seu significado vai para além do superficial e se inteira no arcabouço do texto .Aquilo que está oculto no sótão da produção ficcional é o que determina a diferença entre um grande escritor e um mero escrevedor de palavras.