O homem que procurava idéias

Não escrevia fantasia por que a realidade era fantástica demais para se contar.

Havia um homem que andava pela rua buscando capturar idéias , mas ele não procurava qualquer idéia não , ele era caçador de idéias muito especiais, ele procurava uma tal idéia mágica que lhe rendesse um livro , um livro que lhe rendesse fama, fama que lhe rendesse amigos e amigos que lhe rendessem mistérios e mistérios que ele facilmente poderia trocar por punhados de areia mágica que se encontrava em praias desertas em algum lugar escondido do mundo. Para tal feita o homem carregava sempre consigo um saquinho de boca amarrada, um laço de fita dourada e alguns pedacinhos de sonho para dar de comer a idéia quando finalmente a encontrasse.

Ele procurou em todos os cantos , nos prados e florestas , atrás de arco-íres e por entre os mares, nas encostas de montanhas e nas campinas esverdeadas, procurou e procurou em toda parte, no amanhecer de novembro e no entardecer do começo do ano , procurou no rastro do vôo das aves por achar que queria idéias ligeiras e no deslizar flutuante dos cisnes do lago por pensar que seria melhor idéias preguiçosas.

Certa vez achou ter a encontrado no ruído que os sapos fazem em noite de lua , mas a idéia astuta como ela só se escondeu por detrás do bosque fechado por cima da montanha e entre os rochedos de tal forma escondida que ele não pode mais avista - lá. Já quase desistindo de sua procura o homem se sentou para cochilar um pouco encostado na sombra de uma árvore grande na beira do abismo do tempo por detrás da encosta da terra onde homem algum jamais havia pisado. O sono veio breve , cansado, o homem adormeceu e sonhou , sonhou com idéias infinitas jorrando de uma fonte alta que caia no breu profundo e se transformavam em sorrisos de criança. Enquanto o homem dormia a idéia foi se chegando , ficando mais próxima e colorida. Cansada da fuga resolveu encostas-se na árvore para descansar e também adormeceu, no sonho sonhava com campos abertos cheios de vida e com idéias brincando de cabeça em cabeça ate a aurora e por toda a amanhã e nos raios de sol da tarde e na negra vivacidade da noite e no silêncio da madrugada por todas as gerações. Neste momento o homem acordou, qual foi a sua surpresa quando viu a seu lado a idéia dorminhoca sonhando com coisas que idéias sonham, no mesmo instante ele abriu o seu saco de boca amarrada, mas o saco estava a tanto tempo nesta posição que soltou um grito medonho que fez voar os pássaros e correr as estrelas e passar o tempo, o tempo passou tão perto do homem que ele resolveu que seria bom laçá-lo com a fita dourada ,e tempo laçado é um bicho manso, ficou calminho andando do lado do homem igual cachorrinho domado sabe como é?

A idéia assustada não teve qualquer reação ,não conseguiu fazer nada, ficou imóvel esperando o momento que seria aprisionada pelo homem , mas o homem que na verdade era muito bom teve pena da idéia e resolveu que daria cinco segundos de vantagem para que ela corresse, para a gente cinco segundos é muito pouco , mas para as idéias que voam pela força do pensamento isso era quase como a eternidade inteira , assim ela pode correr, correr bem rápido e se esconder novamente em algum lugar do mundo, nesta hora o homem aproveitou que teria tempo e resolveu bater um bom papo com seu saco de idéias que agora estava com a boca solta e tagarelava mais do que não sei o que, ele então resolveu caminhar ao invés de correr , quando se sentia cansado o homem parava e dormia , dormia sonhando para ver se a idéia desta vez se achegava novamente , mas aí o homem enquanto caminhava olhava o tempo ali do seu lado como amigo fiel , toda sua pressa e desespero na busca da dita idéia aos poucos se acalmava ele percebia que como ele tinha o tempo ao seu lado não precisava mais correr , aos poucos ele passou a admirar o verde dos campos , as pessoas nas grandes cidades, o ruído dos sapos nos brejos , a corrida das águas nos ribeiros e o formato que as nuvens tinham perto das colinas na mudança das estações, tudo isto ele viu e viveu mas o tempo com o tempo envelhecia e o homem percebia isto a cada nova manhã, um dia, cansado, o tempo parou e não quis mais andar mas o homem também se sentia cansado e também parou , parado o homem novamente dormiu , mas desta vez não sonhou com idéias ou com coisa nenhuma que antes sonhará, mas sonhou com formatos azuis de ruídos distintos , com gotas de nada caindo em lagos de sim, sonhou com a boca da noite e com todos os seus dentes , com a marca que algumas estrelas deixavam no céu, sonhou com cantos de pássaro em asas de borboleta e com a forma que o sol imprimia no azul de alguns dias , sonhou com muitas outras coisas e novamente vendo que o homem dormia a idéia se aproximou dele mas desta vez resolveu brincar em seus pensamentos. O homem sentiu que encontrara a idéia mas gostava tanto do sonho que não quis acordar , a idéia então percebeu que lugar de idéia era no sonho dos homens e o tempo, ah este arrumou um jeito esperto de soltar o laço de fita que tinha ao redor do pescoço e escapar igualzinho cachorro fujão, assim em algum lugar do mundo está um homem segurando uma fita de amarrar tempo pendurada na mão sonhando com idéias infinitamente...