Relicário de Idéias

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Location: Brasília, Brazil

Sou uma pessoa feliz que adora a vida e que se orgulha disso

Monday, July 09, 2007

Execício de Imaginação Osman Lins


O pássaro, a menina, a bola e o gato. O gato, a bola, a menina e o pássaro. O pássaro a bola o gato a menina. A menila o pasto a bona e o gásaro. A Pastomenila e o Bonagásaro.
Encontraram-se um dia, numa encruzilhada, a Pastomenila e o Bonagásaro. A Pastomenila: corpo de penas, asas de palheta, rabo curto de seda e longos dentes de vidro; o Bonagásaro talvez fosse feito de esponja (diminuía de volume, quando o apertavam), falava aos berros através do bico muito comprido e rubro, andava sem que ninguém lhe ouvisse as pisadas, e saltava para o alto, com facilidade, acionado por molas, quando contrariado.
A Pastomenila abriu as asas; o Bonagásaro pôs-se a andar em silêncio. Soprou entre eles um vento brando e morno.
- O verão está chegando - berrou o Bonagásaro.
- O inverno também - disse a Pastomenila, falando devagar, para que as palavras fizessem tilintar os cristais dos lustres de cristal.
- Ontem chegaram os peixes - foi o brado seguinte.
Fazendo ressoar melodiosamente os incisivos, a Pastomenila informou:
- E amanhã, às 10 horas, no máximo, chegam as aves.
- O Pavão também?
- Não.
O Bonagásaro mastigou a palavra “não”, engoliu-a e começou a saltar extremamente irritado. “Por que o Pavão não vem? Por que não vem o Pavão? O Pavão não vem por quê?” Seu bico vermelho parecia uma espada, enquanto ele explorava as possibilidades sintáticas da frase. Quando silenciou, disse a Pastomenila:
- O Pavão chega hoje com os leões.
O Bonagásaro bradou: - Por quê? Quem deu ordem?
A Pastomenila começou a girar, tilintando a cristalina dentadura. Abriu de súbito as asas de palheta e enlaçou chorando o Bonagásaro, que ficou menor.
Nisto, o vento, antes suave, entrou a soprar forte. Receando serem arrebatados, o Bonagásaro e a Pastomenila uniram-se com desespero.
- Também está chegando o Outono - gritou ainda o pobre Bonagásaro.
- Também a Primavera - tilintou a outra.
Regiraram os dois, ouviu-se em meio àquele torvelinho, com um rumor de taça quebrada contra as pedras, a palavra ARPRIMEVA! Cessado o vento, eram outra vez, na página, o gato, a menina, a bola e o pássaro.
Não havia sinal de Pastomenila nem de Bonagásaro. Cerrei os dentes e ergui a cabeça, à espera do Pavão, com sua imponente guarda de leões

Tuesday, July 03, 2007



Quando algo termina, devemos pensar que algo começa
Rudolf Steiner

In this dark world and wide (neste mundo escuro e vasto)


Quando pensamos sobre a memória e refletimos sobre o passado percebemos que ao longo do caminho somos surpreendidos por milhões de eventos que por mais sutis que sejam nos conduzem a um caminho que já era certo.
Quantas vezes passamos ao lado do nosso destino? Já tocamos o mesmo corrimão que o pai de nossos filhos tocou há uma semana atrás? Já moramos muito tempo do lado de um grande amigo que conheceremos anos mais tarde em uma viagem para algum lugar distante ? Ou tudo na vida é reflexo? Se for assim, quantos amigos que julgávamos levar pela vida inteira perdemos? Quantos amores ainda vamos colecionar ?
O inesperado e o surpreendente é o que nos conduz pelos caminhos mais ilógicos da existência , mas todos os homens deveriam pensar que tudo que lhes foi dado nada mais é do que um instrumentos para algo que não conhecemos ainda e que é muito maior do que podemos imaginar.
Suportar a dor com a proposta de que ela tem uma finalidade reveladora talvez a torne mais suave , mas pensar na felicidade como uma forma de preparação para dor , está é a real difícil tarefa que poucos , muito poucos, são capazes de suportar.