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Sou uma pessoa feliz que adora a vida e que se orgulha disso

Tuesday, May 26, 2009

Operador poético


Pensar a literatura, é antes de tudo pensar o homem e o que o constitui, se como dizia Ezra Pound a literatura é linguagem carregada de significado , a literatura é também o significado carregado da inteiração humana .
Penso em água. Como palavra eu poderia dizer que ela é um substantivo apenas, livre de demais comprometimentos com sua significação,mas um significado imediato e asséptico poderia dizer que ela é fruto da composição química entre uma molécula de hidrogênio e duas moléculas de oxigênio ,além disto uma suposição elementar poderia também dizer que ela é o composto básico que origina a vida , uma vez que os seres humanos são majoritariamente formados pelos elemento água.Concepções abissais, apesar de possíveis, mas não restritas, mas não unilaterais pois o homem é capaz de ir muito além disto , o cristianismo dirá que a água é a palavra de Deus ,assim Jesus transforma a água em vinho , Moisés abre o mar vermelho mas o conceito é muito mais profundo do que o milagre em si; a literatura dirá por sua vez que a água é direção , que os rios são caminhos e que o mar é o infinito, imagens que direcionam um personagem e compõem o enredo mas que também discutem a própria vida.
Água pode além disso ser purificação, sutileza, calmaria ou profundidade; a água pode ser a alegria do semeador e a tristeza da colheita, pode estar ligada a alegria do nascimento e ao desespero da morte, ao bem , ao mal e a quantos dualismos o homem for capaz de pensar.
Da sucessão de significados destacamos a essência da linguagem, o homem assim que vê algo a nomeia, já dizia o grande Martin Heidegger,a condução deste significado do texto ao leitor e a sua inteiração com a infinidade de demais significados possíveis é o que torna a literatura uma tarefa complexa e desafiadora.
O operador poético, ou seja aquilo que deflagra o processo de inteiração entre o a palavra e o seu significado vai para além do superficial e se inteira no arcabouço do texto .Aquilo que está oculto no sótão da produção ficcional é o que determina a diferença entre um grande escritor e um mero escrevedor de palavras.

2 Comments:

Blogger Roberto Laaf said...

Oi Letícia, adorei o post! Acho fundamental que um escritor saiba dar contornos às suas inspirações para que possa conduzir de forma coerente até o leitor, aquilo que deseja expressar, seja por meio de longas narrativas novelísticas ou na beleza de curtos e contundentes poemas. Nem sempre as inspirações são transformadas em ótimos trabalhos literários, isso, em minha opinião, dependerá não somente da capacidade do autor em si, como também, de seu momento emocional.
Comigo, a inspiração ocorre basicamente de forma espontânea, mas já aprendi a estimular meu interior para que ela venha à tona quando preciso, em uma espécie de evocação de informações que se combinam a sentimentos muitas vezes armazenados em locais de difícil acesso. A partir daí, a mente fervilha de ideias que precisam fluir e são jorradas com a força de uma represa que acaba de ruir, inundando, seja o papel, seja o gravador eletrônico, com todas aquelas frases, palavras e descrições de imagens que vão se atropelando à medida que são formadas dentro da cabeça.
Uma vez que tudo esteja diante de mim, para que eu possa “trabalhar” a argamassa da escultura, combinar as tintas da pintura, começo a lapidar meu carvão em forma de textos até transformá-lo em um diamante.
Daí para frente ainda entram outros processos, de revisão, análise crítica, enfim, até chegar ao final, mas a essência da transformação ocorre nos primeiros momentos após a inspiração, e não, durante a própria.
Beijos!

2:27 PM  
Blogger Roberto Laaf said...

Complementando o relato anterior, agora, pensando exclusivamente nos romances longos, uso uma metodologia de construção que sempre me pareceu confortável, que é a de “montar o esqueleto” da obra que pretendo propor. Entro no processo criativo e vou imaginando os momentos fortes da narrativa, praticamente separando-os quase como tópicos de cada capítulo, até que eu tenha toda uma linha-base, digamos assim, do livro que surgirá. É claro, e já pude comprovar isso em todos os livros que escrevi, que de forma alguma esse esqueleto transforma-se em minúsculos grilhões que me aprisionem à ideia inicial, porque é natural que as estórias evoluam, ganhem vida e implorem por mudanças que são rapidamente inseridas e então o esqueleto é ajustado. Atualmente, não imagino outra forma de trabalhar os romances longos. Sinto-me tão seguro, que até comentei com a Nana no encontro, que no primeiro volume da série Horizontes, escrevi os dois capítulos finais do livro antes mesmo de escrever o prólogo. Depois segui o esqueleto, com um ajuste aqui e outro ali, e fiz o encaixe quando cheguei aos últimos capítulos.
Beijos!

2:51 PM  

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