Concerto encantado para harpa e sonho

A vida parece um quadro de Renoir, são tantas cores, imagens, figuras, pessoas, lugares e caminhos que você já não pode fixar nada, se prender a nada e você se sente como quem está em um turbilhão mnemônico, em um sonho confuso, como se girasse em uma roda gigante perpétua, como se nada pudesse permanecer, como se ao olhar uma imagem por muito tempo você perdesse todas as outras, então você quer gritar, mas sem voz nem gemido não pode fazer outra coisa se não ouvir, ouvir em silêncio o eco das muitas vozes em sua mente, ouvir os gritos dos sonhos que não foram sonhados ... .
Mas então a caixa de música começa a entoar um outro compasso, a ficar cada vez mais suave e você descobre que quer aprender melhor o que é o azul antes de vê-lo, provar primeiro o perfume das águas antes de se refrescar nas fontes, ouvir sinfonias inteiras de Mozart antes de se encantar com o silêncio, ser simples como somente o vôo das borboletas podem ser , contaminar suas mãos na tinta fresca das pessoas e sentir a magia das coisas como somente os anjos podem sentir. Ver o não visto, ouvir o não dito, esquecer das verdades, por que a única realidade que me basta é aquela que eu invento e que em troca me inventa a cada dia, então faz de conta..., faz de conta que eu e você somos um, faz de conta que o pequeno príncipe mora hoje no meu quintal, faz de conta que tudo é uma mágica e que a realidade não é mais que um quadro de um pintor famoso que pintava bailarinas e senhores distintos de chapéu.
Antes de desejar asas descubra primeiro se você podes voar, se você tem vocação para pássaro e gosto pelo infinito, recorte os momentos pois a vida te convida hoje para dançar e as borboletas começam a enfeitar o jardim.